Subscribe
Add to Technorati Favourites
Add to del.icio.us
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mary Margaret O'Hara - Body's in Trouble video

Publicada por bulgari

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nomeio o mundo

Publicada por bulgari



Com medo de o perder, nomeio o mundo,
Seus quantos e qualidades, seus objectos,
E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.

Nomeei as coisas e fiquei contente:
Prendi a frase ao texto do universo.
Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação, um verso.

Vitorino Nemésio

Faltam-me as palavras

Publicada por bulgari



Outras coisas no entanto
o amor e o desamor e também a
morte que nas coisas morre subitamente
o lugar onde vais de súbito

De súbito faltas-me debaixo dos pés
e noutros lugares De ti é possível dizer
que te ausentaste para parte incerta
deixando tudo no teu lugar

Está tudo na mesma Também a mim
tempo não me falta lugar sim
Onde cairás morta, flor da infância?
De súbito faltam-me as palavras


Manuel antónio pina
ainda não é o fim 
nem o princípio do mundo
calma
é apenas um pouco tarde
erva daninha
1982

domingo, 4 de dezembro de 2011

Snow Patrol - This Isn't Everything You Are

Publicada por bulgari

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado

Publicada por bulgari

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vou-me embora

Publicada por bulgari



Conto até cem e, se não chegares antes dos cem, vou-me embora. Não chegaste antes dos cem. Conto de cem a um e, se não chegares antes do um, vou-me embora. Não chegaste antes do um. Conto dez automóveis pretos e, se não chegares antes dos dez automóveis pretos, vou-me embora. Não chegaste antes dos dez automóveis pretos. Nem antes dos quinze taxis vazios. Nem antes dos sete homens carecas. Nem antes das nove mulheres loiras. Nem antes das quatro ambulâncias. Nem sequer antes dos três corcundas e, entretanto, começou a chover.


António Lobo Antunes

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Todo o presente espera pelo passado para nos comover

Publicada por bulgari



Há vária gente que não gosta de evocar o passado. Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro. Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação. Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser. O presente é cheio de urgências mas ele que espere. Ha tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz. Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão. Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem... 


Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 5'

Jorge Cruz | Tornados

Publicada por bulgari

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tão subitamente

Publicada por bulgari



Contigo aprendi coisas tão simples como 
a forma de convívio com o meu cabelo ralo 
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas 
Só tu me acompanhastes súbitos momentos 
quando tudo ruía ao meu redor 
e me sentia só e no cabo do mundo 
Contigo fui cruel no dia a dia 
mais que mulher tu és já a minha única viúva 
Não posso dar-te mais do te dou 
este molhado olhar de homem que morre 
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente

Ruy Belo

Fuegos de todos los colores

Publicada por bulgari




Un hombre del pueblo de Neguá, en la costa de Colombia, pudo subir al cielo. A la vuelta, contó. Dijo que había contemplado, desde allá arriba, la vida humana. Y dijo que somos un mar de fueguitos.- El mundo es eso - reveló- un montón de gente, un mar de fueguitos. Cada persona brilla con la luz propia entre todas las demás. No hay dos fuegos iguales. Hay gente de fuegos grandes y fuegos chicos y fuegos de todos los colores. Hay gente de fuego sereno, que ni se entera del viento, y gente de fuego loco, que llena el aire de chispas; algunos fuegos, fuegos bobos, no alumbran ni queman, pero otros arden la vida con tantas ganas que no se puede mirarlos sin parpadear, y quien se acerca se enciende.



Eduardo Galeano, El libro de los abrazos

domingo, 20 de novembro de 2011

Fanfarlo | The Walls Are Coming Down

Publicada por bulgari

Ar nas gotas

Publicada por bulgari



(...)

As barcas gritam sobre as águas.
Eu respiro nas quilhas.
Atravesso o amor, respirando.
Como se o pensamento se rompesse com as estrelas
brutas. Encosto a cara às barcas doces.
Barcas macias que gemem
com as pontas da água.
Encosto-me à dureza geral.
Ao sofrimento, à ideia geral das barcas.
Encosto a cara para atravessar o amor.
Faço tudo como quem desejasse cantar,
colocado nas palavras.
Respirando o casco das palavras.
Sua esteira embatente.
Com a cara para o ar nas gotas, nas estrelas.
Colocado no ranger doloroso dos remos,
dos lemes das palavras.

(...)

Herberto Helder

sábado, 19 de novembro de 2011

Jo Hamilton-Think Of Me

Publicada por bulgari

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Das manhãs....

Publicada por bulgari



Das manhãs

Apenas levarei a luz

Despovoada

Sem promessas
sem barcos
E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas

Da tua vez

Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas

As pedras
As nuvens
O teu canto

Levarei manhãs e madrugadas


Daniel Faria

sábado, 12 de novembro de 2011

broken social scene feat. feist - lover's spit

Publicada por bulgari

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um nome arde tanto

Publicada por bulgari


Tracie Taylor


Um nome arde tanto
de repente todos os caminhos parecem de regresso
a vida por si mesma não se pode escutar demasiado
a vida é uma questão de tempo
um sopro ainda mais frágil


a rapariga desce à pequena praça,
compra uma flor para ter na mão
uma forma intemporal de conservar
a perfeição ou a incerteza

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Não me agrada

Publicada por bulgari



Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece...

Clarice Lispector

domingo, 6 de novembro de 2011

Hammock - I Can Almost See You

Publicada por bulgari

sábado, 5 de novembro de 2011

So you want to be a writer?

Publicada por bulgari



If it doesn't come bursting out of you in spite of everything,
don't do it.
Unless it comes unasked out of your heart
and your mind and your mouth and your gut,
don't do it.
If you have to sit for hours staring at your computer screen or
hunched over your typewriter searching for words,
don't do it.
If you're doing it for money or fame,
don't do it.
If you're doing it because you want women in your bed,
don't do it.
If you have to sit there and rewrite it again and again,
don't do it.
If it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
If you're trying to write like somebody else,
forget about it.
If you have to wait for it to roar out of you,
then wait patiently. if it never does roar out of you,
do something else. If you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all, you're not ready.
don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of people
who call themselves writers,
don't be dull and boring and pretentious,
don't be consumed with self- love.
the libraries of the world have yawned
themselves to sleep over your kind.
don't add to that. don't do it.
unless it comes out of your soul like a rocket,
unless being still would drive you
to madness or suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is burning your gut,
don't do it.
when it is truly time, and if you have been chosen,
it will do it by itself and
it will keep on doing it until you die
or it dies in you.

there is no other way.

and there never was.




Charles Bukowski

Flor da pele

Publicada por bulgari





Trago à flor da pele as coisas que devia
esconder, o mais íntimo e sombrio.
Podeis ver o meus esqueleto e não só,
também trago à flor da pele a alma toda.


Amalia Bautista

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Vend - Silent Snow Falling

Publicada por bulgari

Paula Lobo


Muito antes de darmos o primeiro grande passo, já estamos a morrer – sucumbimos às forças que não foram desafiadas em nós. O que é que é assim tão bom no bem estar, caramba? A ânsia de viver é a ânsia de gastar toda a paixão, até ao fim, antes que acabe. Tenho medo de uma coisa: do colapso da minha fúria, do meu riso, da minha privação. Da minha vergonha... Ali algures, atrás das muitas palavras parvas, atrás da nossa inquietude torturadora, tem de existir ainda, escondida, qualquer coisa da vida trágica para a qual nos falta a expressão certa. Percebes?

Botho Strauss

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Próximo do Coração

Publicada por bulgari

Old York



Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
de quem não espera recado.
Essa sombra como é a alma
de quem já só por dentro se ilumina
e surpreende
e por fora é
apenas peso de ser tarde.Como é
amargo não poder guardar-te
em chão mais próximo do coração.

Daniel Faria

Verdade da Palavra

Publicada por bulgari



Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível verdade da palavra.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor de uma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce –
A palavra que nunca se profere.

Adolfo Casais Monteiro

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lana Del Rey - Video Games

Publicada por bulgari

Noite

Publicada por bulgari

Dabadus


Os astros solitários abrigam-se
à evidência dos meus passos .
Avanço audaz a abraçar-te
no silêncio imprudente .


Venho devolver-te as horas dormidas .
As horas vãs de valsas monótonas .

De quimeras infrutuosas .
De primaveras idas .

Quero a consciência de mim na imaterialidade circunscrita do tempo .
Troco o suave afago do rosto azul lunar

pelas palavras sussurradas entre linhas
(levadas pelo rumor rubro dos ventos brandos)
pelos parênteses curvos dos meus devaneios
(que confinam simples manchas brancas no teu corpo)
pelas palavras escritas de forma ténue à flor da pele
(circunstancialmente dispersas pela subconsciência dos dias . 
E da noite)

Troco cada noite do imemorial descanso
pela clarividência tumultuosa dos meus dedos .
Pela consciência desassossegada de mim .
Quero a consciência delicada do impulso que ligou a noite - aos dias .
Que desvelou o silêncio confuso - às falas lúcidas e severas .

Que restituiu o caos sereno - à ordem discordante .
Quero o eterno retorno . Substância de ser eu .

Joaquim Chamorro

Directly to your soul

Publicada por bulgari


Thank you all for your inspiration!

domingo, 30 de outubro de 2011

Intuition

Publicada por bulgari

Que há palavras que são sítios

Publicada por bulgari

Martin Waldbauer



Ninguém me disse, um dia, 
No escuro 
Que há palavras que são sítios por dentro. 

Ninguém me disse, um dia, 
Que há noites que são quase lugares. 
Paisagens da mesma solidão , 
Plena de outros lados: 
As lágrimas principais. 

Como ruas assim, 
Que se existissem de tanto silêncio, 
Seriam planícies de mais frias 
E despovoadas, 
Morrendo com tanta força que nunca 
Se encontrariam no mesmo medo. 

Porque no silêncio, 
Há sempre o perigo de palavras às escuras. 

(onde tenho todas as ruas do mundo 
à minha espera) 

Duarte Temtem

sábado, 29 de outubro de 2011

Cujo nome não sabes

Publicada por bulgari

Ava



Vem sempre
do lado esquerdo.
As dores, mesmo
quando são fingidas, nunca
cicatrizam e é
do lado esquerdo
que se fixam. Delas
se poderá dizer
que são sinistras. Assim
a mão que só
para suprir carências
se obriga às vezes
a escrever, assim
os presságios
dos áugures se
para norte olhavam. E as dores,
repito,
sobretudo aquelas
cujo nome não sabes
ou por cautela omites.


Albano Martins

Tenho guardado

Publicada por bulgari

T.K.



Debaixo do colchão tenho guardado
o coração mais limpo desta terra
como um peixe lavado pela água
da chuva que me alaga interiormente
Acordo cada dia com um corpo
que não aquele com que me deitei
e nunca sei ao certo se sou hoje
o projecto ou memória do que fui
Abraço os braços fortes mas exactos
que à noite me levaram onde estou
e, bebendo café, leio nas folhas
das árvores do parque o tempo que fará
Depois irei ali além das pontes
vender, comprar, trocar, a vida toda acesa;
Mas com cuidado, para não ferir
as minhas mãos astutas de princesa.


antónio franco alexandre

Feist - How My Heart Behaves

Publicada por bulgari

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Poema

Publicada por bulgari

Scarabuss


Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar

António José Forte
in Uma faca nos dentes, Parceria AM Pereira

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rachael Yamagata - Sunday Afternoon (Video)

Publicada por bulgari

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Digo-te por isso

Publicada por bulgari

Kate Pulleys



Digo-te por isso
que não me obrigues à luz.
Que escrever não é fácil,
que viver não é fácil
quando começamos a frase a meio.
Que lavo a cara ao chegar tão tarde
e mesmo assim o dia não se despega,
e mesmo assim
tu não estás, ninguém está.
Que não tenho espaço na minha secretária,
na minha vida, na minha cama
para tanto espaço.
Que já me disseram urbana,
e nem por isso me disseram decadente,
e que eu gostei.
Que já me disseram
muitas vezes
disfarçadamente triste,
e que por isso, por ser triste, por
sermos todos tristes, não mo deviam dizer.
Digo-te por isso
que não era minha intenção dizer-te mais uns versos
tristes e sem luz, e por isso, só por isso,
não era minha intenção dizer-te nada.

Filipa Leal

sábado, 15 de outubro de 2011

Antes que seja tarde

Publicada por bulgari

Don Paolo

Antes que seja tarde
"Amigo, tu que choras uma angústia qualquer 
e falas de coisas mansas como o luar 
e paradas como as águas de um lago adormecido, acorda! 
Deixa de vez as margens do regato solitário 
onde te miras como se fosses a tua namorada. 
Abandona o jardim sem flores 
desse país inventado onde tu és o único habitante. 
Deixa os desejos sem rumo de barco 
ao deus-dará e esse ar de renúncia 
às coisas do mundo. Acorda, amigo, liberta-te dessa paz 
podre de milagre que existe apenas na tua imaginação. 
Abre os olhos e olha, abre os braços e luta! 
Amigo, antes da morte vir 
nasce de vez para a vida."

Manuel da Fonseca
(Faria hoje 100 anos)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Um actor um músico

Publicada por bulgari

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Haverá sempre sol

Publicada por bulgari

Unique Nudes



Guarda tu agora o que eu, subitamente, perdi
talvez para sempre ― a casa e o cheiro dos livros,
a suave respiração do tempo, palavras, a verdade,
camas desfeitas algures pela manhã,
o abrigo de um corpo agitado no seu sono. 

Guarda-o
serenamente e sem pressa, como eu nunca soube.

E protege-o de todos os invernos ― dos caminhos
de lama e das vozes mais frias. Afaga-lhe
as feridas devagar, com as mãos e os lábios,
para que jamais sangrem. E ouve, de noite,
a sua respiração cálida e ofegante
no compasso dos sonhos, que é onde esconde
os mais escondidos medos e anseios.

Não deixes nunca que se ouça sozinho no que diz
antes de adormecer. E depois aguarda que,
na escuridão do quarto, seja ele a abraçar-te,
ainda que não te tenha revelado uma só vez o que queria.

Acorda mais cedo e demora-te a olhá-lo à luz azul
que os dias trazem à casa quando são tranquilos.
E nada lhe peças de manhã ― as manhãs pertencem-lhe;
deixa-o a regar os vasos na varanda e sai,
atravessa a rua enquanto ainda houver sol. 

E assim
haverá sempre sol e para sempre o terás,
como para sempre o terei perdido eu, subitamente,
por assim não ter feito.


Maria do Rosário Pedreira

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quantas coisas não vividas um ser humano aguenta?

Publicada por bulgari

Sasha Anikitin




Muito antes de darmos o primeiro grande passo, já estamos a morrer – sucumbimos às forças que não foram desafiadas em nós. O que é que é assim tão bom no bem estar, caramba? A ânsia de viver é a ânsia de gastar toda a paixão, até ao fim, antes que acabe. Tenho medo de uma coisa: do colapso da minha fúria, do meu riso, da minha privação. Da minha vergonha... Ali algures, atrás das muitas palavras parvas, atrás da nossa inquietude torturadora, tem de existir ainda, escondida, qualquer coisa da vida trágica para a qual nos falta a expressão certa. Percebes?


Botho Strauss

domingo, 9 de outubro de 2011

Há palavras

Publicada por bulgari

Anzya


Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mario Cesariny

Regresso

Publicada por bulgari

Mistress Gothca




Não vim à procura de nada
Nem de saudades que não tenho
Nem de carga do tempo perdido
Nem de conflitos sobrenaturais
Do tempo e do espaço

Amei desde criança
Certas coisas que não choro
Fui a pureza deslumbrada que não volta jamais
O vidro sem ranhura que o sol atravessa
A pureza
Que me deixou feridas imortais

Vim para ver
Para ver de novo
Para contemplar sem perguntas
Não vim à procura de nada
Não me perguntem por nada
Um rio não se interroga
O vento não se arrepende


Alberto de Lacerda

sábado, 8 de outubro de 2011

faz acontecer

Publicada por bulgari

Mona Kahn



Há vício no meu olhar fixo
basta lançar a linha e logo serena
em mim o desassossego
os olhos repousam no flutuador, mas é mais
que repousar, é como se finalmente
estivesse livre para não sair do sítio,
e assim o meu olhar fica inerte - não espero
que o peixe morda - fixo
o momento. Não preciso de nada não preciso
de olhar. Concentro-me nas rugas à superfície
não me esforço em penetrar até ao fundo.
Indiferente ao que possa aparecer, desaparecer
por cima ou por baixo de mim, indiferente
ao que foi e indiferente ao que está para vir.
As cores lisas a brilhar à tona da água
já são acontecimentos a mais
e vejam, eis o primeiro círculo
de algo que caiu na água ao longe.
Nada melhor do que não fazer nada,
do que não me mexer. Até um mínimo
erguer de olhos perturba irremediavelmente a ordem
e faz acontecer, faz acontecer.


Judith Herzberg

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A pele

Publicada por bulgari



A pele é o meu único limite
atravessa-a
onde a luz é mais forte
não feches lá fora o mundo
nem a mim cá dentro

mostra-me
que o sol no céu
é o sonho em mim própria
a realidade ardente
quando me mordes
e me fazes sentir
que não há diferença
entre lado de fora e lado de dentro
entre dor e carícia
pedra e palavra

porosa às tuas investidas
sou aquela que
se abre em desejo
de existir no mundo
em todo o lado e ao mesmo tempo

dá-me o que tens
de tudo
não exijo mais nada.



Pia Tafdrup
ponto de focagem do oceano

Há um ar...

Publicada por bulgari



Há um ar de espanto
no teu rosto em silêncio pequenas pausas
entre nós e as palavras
que desfiamos
Quando o silêncio (pausa mais longa
que nos contrai o peito)
cai bruscamente
duas mãos agitam-se meigamente as nossas
e os mendigos, todos os mendigos
espreitam ao postigo do teu pequeno apartamento
coroados de rosas e crisântemos


É o momento
em que afirmamos a realidade das coisas
não a que vemos na rua
e que sabemos fictícia


mas a outra


aurora cintilante
que põe estrelas no teu sorriso
quando acordas de manhã
com um sol de angústia na garganta


acredita
nada nos distingue
entre a multidão anónima a que pertencemos
embora
o fotógrafo teime sempre
em nos oferecer uma esperança
- fluido imaterial que nem mil anos
poderão condensar -


O nosso rasto
mal se apercebe na areia
condenados ao fracasso
pequena glória dos pequenos heróis deste tempo
ainda aspiramos
no entanto
a ser o índice deste século
único sinal humano, florescente e salubre
de contrário
seremos apenas
um halo de vento
arco-íris de luto
ou estrada para sedentários
É ocioso
preparar a objectiva
que nos vai condenar a um número
nesta cidade onde cada homem
é escravo de uma arma
Ocioso
avivar as flores do cenário
encher de luar o jardim do nosso afecto
Só um acaso
nos poderá revelar
por isso
fechemos o rosto
meu amor


pedro oom
sacavém, março de 1973

Peter Murphy - Créme de la Créme

Publicada por bulgari



So lovely!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Esperar o inesperado..

Publicada por bulgari




Esperar o inesperado é uma expectativa que se abre sem limites definidos, sem trajectória, sem apostar seja no que for. A esperança não tem nada a ver com este exercício permanente de disponibilidade. Nem, propriamente, a surpresa. Esperança e surpresa estão demasiado contaminados de humano para poderem participar nesta disponibilidade para o que vier de um lá que nem sabemos onde se situa, onde terá vigência.

Alexandre O'Neill-Uma coisa em forma de assim

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Na Pó dos Livros

Publicada por bulgari

e sabes,

Publicada por bulgari



E sabes, no que mais tenho pensado é nisso,
no significado das rotas,
no que elas têm a ver com tudo isto que te conto,
com o que nos conduz na vida e não sabemos.
Há um mistério nisso. Tu também sabes.
É o maior mistério e não podemos persegui-lo.
Como se nos afastássemos e só pudéssemos esperar
e fosse mesmo isso o que está certo.

Rui Coias


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Quantos amanhãs?

Publicada por bulgari

Lucas Pierro


Negamos as nossas paixões e adiamos os nossos sonhos. Mas a vida é realmente um dom frágil e tem de ser vivida agora, neste preciso momento. Nenhum de nós sabe quantos mais amanhãs lhe restam.

Robin Sharma

sábado, 1 de outubro de 2011

Lykke Li - I Follow Rivers (Director: Tarik Saleh)

Publicada por bulgari

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

E recomeço...

Publicada por bulgari





Quando amanhece penso:
Encontro-te no vento
virás abraçar-me como os ramos da árvore
e chegaremos ao coração da cidade


Ao meio-dia sei:
A distância do meu corpo ao teu grito
corresponde à do teu sopro ao meu ouvido
eis a anatomia do silêncio


De tarde fico exausta:
Circulo pelas ruas e roço-me nas praças


À noite adormecemos:
Será que te lembras? será que me lembro?


Amanhã alegro-me de novo:
Imagino a floresta, parto o espelho
e recomeço a ir ao teu encontro.



Teresa Balté


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cede dentro de mim....

Publicada por bulgari




Quando os relógios batem tão perto
como dentro do próprio coração,
e as coisas com vozes débeis
perguntam umas às outras:
- Estás aí? - :

então não sou o mesmo que de manhã acordou,
a noite dá-me um nome
que nenhum daqueles a quem de dia falei
ouviria sem angústia 

Cada porta
cede dentro de mim...


Rainer Maria Rilke

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Estar ali

Publicada por bulgari

Porg


Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
a cadeira onde a memória está sentada,
a mesa, o copo, a chávena, o relógio,
o móvel onde alguém permanece encostado
sem volume e sem tempo,
nós próprios, quando os olhos indignados
nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
pesa connosco, forma um corpo inteiro

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
conhece a pedra, entende-lhe o feitio,
sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.

Se fosse o amor dos homens
quando se abrisse a mão já lá não estava.





antónio gedeão

Cómo vivir sin ellos?

Publicada por bulgari




Dicen que no hablan las plantas, ni las fuentes, ni los pájaros,
Ni el onda con sus rumores, ni con su brillo los astros,
Lo dicen, pero no es cierto, pues siempre cuando yo paso,
De mí murmuran y exclaman:
—Ahí va la loca soñando
Con la eterna primavera de la vida y de los campos,
Y ya bien pronto, bien pronto, tendrá los cabellos canos,
Y ve temblando, aterida, que cubre la escarcha el prado.


—Hay canas en mi cabeza, hay en los prados escarcha,
Mas yo prosigo soñando, pobre, incurable sonámbula,
Con la eterna primavera de la vida que se apaga
Y la perenne frescura de los campos y las almas,
Aunque los unos se agostan y aunque las otras se abrasan.


Astros y fuentes y flores, no murmuréis de mis sueños,
Sin ellos, ¿cómo admiraros ni cómo vivir sin ellos?


Rosalía de Castro

Ansiedade

Publicada por bulgari




  Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.
Que o meu canto sejano meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

sábado, 24 de setembro de 2011

Feist - Intuition (piano version)

Publicada por bulgari

Sangre Pura.........

Publicada por bulgari




De sólo imaginarme que tu boca
pueda juntarse con la mía, siento
que una angustia secreta me sofoca,
y en ansias de ternura me atormento...

El alma se me vuelve toda oído;
el cuerpo se me torna todo llama
y se me agita de amores encendido,
mientras todo mi espíritu te llama.

Y después no comprendo, en la locura,
de este sueño de amor a que me entrego;
si es que corre en mis venas sangre pura,
o si en vez de la sangre corre fuego...


Alicia Larde de Venturino 


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Outono

Publicada por bulgari

Limber Lumber



Nunca prestei grande atenção ao calendário, nunca comemorei datas.
Tenho para mim um relógio íntimo que marca outro compasso nisso que chamamos de tempo.


Mia Couto


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Calling All Angels and their Wings of Desire

Publicada por bulgari

....

Publicada por bulgari

Natureza infinita

Publicada por bulgari





"0 DESCONHECIDO FAZ SURPRESAS AO ESPÍRITO DO HOMEM.
A solidão desprende uma certa quantidade de desvario sublime. É o fumo da sarça ardente. Resulta daí um misterioso estremecer de idéias.

0 ar habitado por transparências vivas seria o começo do Desconhecido; além abre-se a vasta porta do possível. Outros seres e outros fatos.

Nada sobrenatural; mas a continuação oculta da natureza infinita."

Victor Hugo

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Jùlio Resende...

Publicada por bulgari

O horizonte das palavras

Publicada por bulgari




Sem direcção, sem caminho
escrevo esta página que não tem alma dentro.
Se conseguir chegar à substância de um muro
acenderei a lâmpada de pedra na montanha.
E sem apoio penetro nos interstícios fugidios
ou enuncio as simples reiterações da terra,
as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.
Tentarei construir a consistência num adágio
de sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes.
E na substância entra a mão, o balbucio branco
de uma língua espessa, a madeira, as abelhas,
um organismo verde aberto sobre o mar,
as teclas do verão, as indústrias da água.
Eu sou agora o que a linguagem mostra
nas suas verdes estratégias, nas suas pontes
de música visual: o equilíbrio preenche os buracos
com arcos, colinas e com árvores.
Um alvor nasceu nas palavras e nos montes.
O impronunciável é o horizonte do que é dito.


António Ramos Rosa

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Kate Moss Hologram Video from Alexander McQueen Fall/Winter 2006 Fashion...

Publicada por bulgari

Most people

Publicada por bulgari





"To live is the rarest thing in the world. Most people exist, that is all."

— Oscar Wilde

Parcialmente do avesso

Publicada por bulgari



Algumas pessoas vendem o seu sangue. Tu vendes o teu coração.
Era isso ou a alma.
A parte difícil é tirar a maldita coisa para fora.
Uma espécie de torção. Como abrir uma ostra, 
a tua espinha, um pulso, 
e depois, upa! Está na tua boca.
Viras-te parcialmente do avesso
como uma anémona do mar a cuspir um seixo.
Há um plop quebrado, o som 
de vísceras de peixe a cair num balde.
E ali está, um enorme coágulo vermelho escuro 
do passado ainda-vivo, a cintilar inteiro no prato.
Vai passando de mão em mão. É escorregadio. É deixado cair. 
Mas também degustado. Muito grosseiro, diz um. Muito salgado.
Muito amargo, diz outro, fazendo uma cara.
Cada um é um gourmet instantâneo, 
e tu ficas a ouvir isto tudo
a um canto, como um empregado de mesa recém-contratado, 
a tua mão tímida e habilidosa na ferida escondida
no fundo da camisa e peito, 
timidamente, sem coração.

Margaret Atwood

domingo, 18 de setembro de 2011

Isso nos baste

Publicada por bulgari


XcaMouchex


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


José Saramago