Todos os dias me apoio em qualquer coisa
ando, como, esqueço
alguma coisa aprendo
e desaprendo
alguma coisa limpa nua grave
surge
ao lado passa
eu não sou este desejo
que às vezes arde
alto sobre o chão
*
Não encontrarás aqui a fluência
de algum ventre polido ou verso límpido
porque estas palavra conhecem as paredes
que não ouviram a angústia e a vertigem
mas têm o sal das lágrimas obscuras
para sempre ignoradas para sempre futuras
nem ouvirás o som das aves frias
mas sentirás o arrepio de sombras sobre as pedras
ouvirás talvez um suor de silêncio
António Ramos Rosa
in Antologia Poética
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