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sábado, 24 de março de 2012

Além do poema

Publicada por bulgari




Quando o amor é como os papéis velhos
e anseia por mais arte que a do poema
o coração é o forno onde ardem palavras.

*

Nesse dia elas foram, amarradas com barbante,
viúvas precipitando-se dentro da pira.
Fiquei a vê-las abrirem-se como pétalas
para logo definharem a meus olhos
numa florescência não cumprida.
O seu frémito era ainda uma ânsia minha.


Remexi as cinzas, agitei o ar com as mãos.
Vi como um poema se mostra servil ante o fogo.
E pensei: ardessem também os meus dedos!
Para que o poema não deixe crias ao morrer
e não mais confira o direito à vida
do que nele vai escrito.

*

Porque o amor é a arte que fica além do poema,
no dia em que não escrever mais poemas
sei que o amor resgatará o meu corpo da chama

Paulo teixeira






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