Konrad Zagloba
Deitar-se alguma vez nos sulcos
do sono da noite anterior,
reconhecendo como um felino doméstico
o cheiro das nossas mantas. Não
lavar os dentes e sobretudo esquecer
de baixar as persianas. Coleccionar
pontas sucessivas de cigarros, jornais
de muitos ontens e rimas
de livros lidos só três paginas. Não
endireitar a curva daquele candeeiro,
deixar as gavetas abertas
com colírios, comprimidos e roupas
à vista. Amontoar em cima da cómoda
brincos ímpares, perfumes sem tampa, pequenos espelhos
quebrados, alfinetes, cartas, rascunhos
e chávenas de chá servido há dias, deixar
calar-se o CD com os lieder de Schumann
afastando os sapatos de muitos caminhos
e a roupa de todas as horas
Inês Lourenço
3 comentários:
Curioso! Há uma não sei quê de "dôce não fazer nada" neste texto que me agrada.
Deprime-me a arrumação, das casas e das cabeças.
Não desiludes Bulgari, honra te seja feita, é sempre um gosto vir aqui.
Camolas!
Aqui em casa reina uma quase anarquia. Não fosse a escravidão das contas...era um reino absoluto!
Chéri minha querida. Sabe-me bem esses miminhos.
Bjocas grandes.
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