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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cidade sem alma

Publicada por bulgari

Complejo

Existe um rasto de silêncio pelas

ruas desta cidade onde moro. O meu corpo

tece horas já e nada se apaga como antes.

Onde estou, o frio é incessante e

às minhas mãos queimam-se fotografias como

se o passado não existisse mais.

De hoje em diante, irei apagar-me

em cada dia, para que nada reste dentro de mim

ou dentro da garrafa vazia.

Por isso te vejo a desaparecer

rapidamente, como um dente-de-leão ao vento

da minha voz, ao agredir-te sem que te

doa ou marque para sempre. E para que os dias passem, bebo-me

de dentro das mãos. Como um vinho verde

que me corre no corpo e assim a visão do mundo

é mais carente - o frio que sinto é da

cidade. Nada mais existe por aqui que me prenda

ou que me faça ficar. Visto a mala para

pensar na partida, carrego-me pela porta até

ao jardim que se estende lá fora, sem luz sem sol

nem calor. Os meus pés já não caminham porque

não sabem. Porque todas as cartas me ensinaram

que a maneira como se pisa um ladrilho é igual

à de pisar um rosto

mesmo que de tal não se goste.

Por isso perco os sentidos nesta cidade

sem polícia e sem refúgios - como se fosse eu

o último a perder-me nas ruas labirínticas e

planas onde o vento me espalha a memória como

água em papel.


Sérgio Xarepe


1 comentários:

XICA disse...

Reflete muito bem o sentir!