me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é plateia e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
Oswaldo Montenegro
7 comentários:
é este que vou roubar!
Belissimo poema! E a môça inda e sempre apaixonada!
O meu maior silêncio para estas belíssimas palavras, que tão bem se ligam nesta reflexão.
Glória à poesia e ao coração.
Abreijos pelas escolhas .
Apaixonada!!?? Xica, metida numa montanha russa de sentimentos, queres tu dizer. Quando penso que sim lá me monto num não e volta a dar mais uma voltinha. Estranha coisa esta a dos sentimentos.
Camolas, Camolas. Tu feito de silêncios? Hummmm, não me parece.
porque metade de mim adorou, e a outra metade pede mais...
Querida amiga, para além de todos os poemas lindos que desencantas dos teus baús, com este acertaste na "mouche", hehehe!!!
Lindo, com significado, maravilhosamente inquietante :))))
És linda.
Bêjos
Susana
Brália quem pede mais sou eu! Trás a tua poesia há luz do dia. Já merece.
Susana!!! Saudades aos molhos...com ou sem Chaminé.
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