Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exatidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas—
Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Eu minha vida daria
E vivo neste tormento
Sophia de Mello Breyner Andreson
3 comentários:
"Eu não tenho pátria tenho mátria"
(Caetano Veloso)
Lindo, não?!
"Pela nudez das palavras deslumbradas..."
É lindo, lindo!
E Camolas, 'mátria' é uma palavra deslumbrada, nua... Linda. Elas existem, as palavras lindas, não é fácil encontrá-las e escrevê-las, fazendo-lhes justiça. Alguns conseguem... A Sophia fê-lo!
... e o Caetano continua a oferecer-nos palavras lindas coladas a melodias únicas e soberbas...
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