Como de súbito na vida tudo cansa!
e cansa-nos a vida e nos cansamos dela,
ou ela é quem se cansa de nós mesmos,
na teima de existir e desejar?
Porque, neste cansaço, não o que não tivemos,
ou que perdemos, ou nos foi negado, o que de que se cansa,
mas também o quanto temos, nos ama, se nos dá a
até os simples gozos de estar vivo.
Um dia é como se uma corda se quebrara,
ou como se acabara de gastar-se,
que nos prendia a tudo e tudo a nós.
Não é que as coisas percam importância,
as pessoas se afastem, se recusem, ou nós nos recusemos.
Não. É mais ou menos que isto- se deseja igual ao como
até há pouco desejávamos. É talvez mais.
Mas sem valor algum.
O dia é noite, a noite é dia, a luz se apaga ou se derrama sobre as coisas
mas elas deixam de ter forma e cor,
ou se sumir no espaço como forma oculta.
E o que sentimos é pior que quanto
dantes sentíamos nas horas ásperas da fúria
de não ter ou de ter tido.
Porque se sente o não sentir.
Um tédio Não como o tédio antigo. Nem vazio.
O não sentir.
Que cansa como nada.
Até dizê-lo cansa.
É inútil. Cansa.
Jorge de Sena
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentários:
Uff! moça! Cansaste-me.
Enviar um comentário