Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-lhe,
e ganhar-lhe a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes
quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas. Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.
Almada Negreiros
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos e fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-lhe,
e ganhar-lhe a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?
Tu Só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes
quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas. Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.
Almada Negreiros
3 comentários:
Grande Almada, ainda hoje estás muito à frente!
Apetece-me embrulhar neste poema e abalar descomandada vida fora. Cantar às esquinas, dançar tango, beber ginginhas.
Aihh! Fazer tudo o que devia fazer e não faço!
Gosti da parte " dançar tango e beber ginginhas" esta parece-me muito bem, quanto ao resto passa, até a vontade de cantar, porque dessa não reza a historia, a minha história claro, é que não sei cantar.
Enviar um comentário