O coração, a mim, não dá para chorar.
Acho sempre muita graça às coisas
do coração porque não há amor
que caiba nesse apertado músculo,
antes no seu lugar, ou seja, é preciso
que o coração saia para que o amor
entre. E venha a ciência, explique
os circuitos, diga como se enxerta
a veia da perna no suspiro, no deleite,
na querida emoção de tanto te sentir.
A veia cava superior, emanação da cabeça,
só desdenha de viver em tal lugar,
mas é lúcida, bem sabe que arfa,
bem sabe que faz ginástica para ter
o ouro, o oxigénio, alguns versos
capazes de suportar o tédio do amor.
O coração, a mim, não dá para jantar.
Gosto do amor nos olhos, no baixo
ventre, no inútil desespero de faltares
ao encontro marcado, à mesa ridícula
onde não estás por causa do trânsito,
da chuva, da impressão vibrátil que outro
rapaz te fez: lembro-me bem de seres sensível
a rapazes, a raparigas e a outras aventuras:
Ah! “olhos que não vêem, coração que não sente”.
Não sinto, bem vês, que seja preciso ocupar
o lugar dele, antes instalar a rede
das visões, das inquietas, amorosas.
Solidão insuportável, cárdio-pânico.
Manuel Fernando Gonçalves
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1 comentários:
Amor dependente não é Amor.
"Elles non saben qué Amor és todo lo contrário" *
(Aguaviva)
*Sou tão bom no Castellano como no Inglês
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