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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Insonias minhas

Publicada por bulgari


Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite;
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite-
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah! o ópio de ser outra pessoa qualquer!

(...)

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a natureza.
A humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A humanidade esquece, sim, a humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a humanidade esquece.
Exatamente. Mas não durmo.

Álvaro de Campos

Até que vou lendo umas coisinhas, mas o sono, desse nem um infimo vislumbre...




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